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um milhão de palavras não tapam um vazio;
um poeta diz: sou um poeta: quer dizer: socorro: quer dizer: há poemas que peço socorro: e nada:
não escrevo: um buraco: um rasgão: um poço: escrevo: um vazio:
como um frio no interior do osso, um eterno frio:
ou uma ausência no interno osso: uma omnipresença em cada gesto: a vontade constante de um abraço e de encostar a cabeça fechando os olhos num sossego para sempre:
uma pele que nos tape como um suave lençol.
há sentido de vida para mais uns meses;
isto quer dizer acordar sem questionar o que fazer;
realizar o que houver com a sensação de leveza;
como um entreter;
um passar tempo; quando damos conta é noite e regressa-se a casa;
venho enchendo a boca de histórias.
para a madrugada abro dois vinhos tintos em prova doméstica
um da bairrada
outro da estremadura
um camembert
acaricio-me a cada sopro do teu dormir:
se te beijar
se te beijasse de novo
beijo-te e fujamos para longe:
para uma casa ao longe:
para um sítio onde se possam inventar novas manhãs, novos gestos, novas mortes:
como queria morrer de outra forma:
não é silêncio: é silêncio que: contá-las: saem de dentro do vazio e o vazio continua vazio mesmo quando cheio de histórias.
não consigo explicar melhor que mais cedo ou mais tarde serei tarde, que é sempre tarde
um filho distrai o tempo
uma pele que nos tape como um suave lençol debaixo do qual se possa adormecer
o modo como coltrane soprava a melodia em torno da oferta que o piano e o contrabaixo
conto-te já uma das histórias:
toco com um excelente guitarrista que tem medo:
outra das histórias:
toco noutro grupo com saxofonistas inexperientes sem receio algum:
outra história:
venho anulando os ensaios com o excelente guitarrista:
erro que nem merda com os saxofonistas juvenis
escrevo:

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